Breve relato sobre o meu “Sandwich Magyar”!
por Aline Aver Vanin
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.” (Amyr Klink)
Estando aqui, pude participar de dois eventos importantes para meu trabalho por eu ter tido bom retorno para a escrita do meu texto. No mês de fevereiro, fui convidada para dar uma palestra para um grupo de doutorandos da Eötvös Loránd University, universidade na qual faço meu estágio, e dessa fala muitos comentários, sugestões e críticas valiosas surgiram. Em março, viajei para Łódź, Polônia, onde participei da Conferência “Meaning, context and cognition”, na qual apresentei o trabalho “On being angry and exploding: unveiling emotion concepts”, que tratou de parte do que desenvolvi na minha tese já aqui na Hungria. Novamente, foi um momento de trocar ideias e repensar aspectos fundamentais da minha pesquisa.
Mais do que desenvolver a tese de doutorado, estudar em outro país é uma experiência enriquecedora em todos os sentidos: conhecemos pessoas de várias nacionalidades (só no meu dormitório estão uma espanhola, uma finlandesa e uma turca...), aprendemos a respeitar e a lidar com uma cultura bem diferente da nossa e, principalmente, passamos a entender a nossa própria vida sob outras perspectivas – pois ao tomarmos distância do nosso mundinho é que conseguimos, de fato, “vê-lo”. Acredito, por isso, que todas as pessoas deveriam passar por uma experiência como essa. Não se trata, apenas, de uma oportunidade de desenvolver uma pesquisa de doutorado, de trabalhar em conjunto com o professor co-orientador, ou de fazer novos contatos na área de estudo, mas é um momento de crescer pessoalmente também. Desde que cheguei em Budapeste, no início deste ano, tive que passar por vários obstáculos, a começar pela barreira linguística. Na universidade, todas as pessoas falam inglês, mas meu maior desafio foi me comunicar pelas ruas desta cidade sem falar ou entender a única língua que – dizem por aqui – o diabo respeita! Mas como em todo começo, adaptei-me bem e hoje já domino algumas “palavras mágicas” que me garantem uma aproximação com os húngaros, já que eles reconhecem o esforço em pronunciar expressões como “köszönöm”, “Jó reggelt”, “kérem”, “Szívesen” ou “Bocsánat”, por exemplo. Além do problema de não conhecer a língua, tive que aprender a me adaptar à cidade em si – meios de transporte e lugares com nomes complicadíssimos à primeira vista, por exemplo –, à comida totalmente diferente da brasileira, e às condições climáticas (o frio chegou a -10ºC!), mas se não fosse a maravilhosa hospitalidade húngara, teria sido bem mais difícil!
Só quem vive um doutorado-sandwich é capaz de entender todo o processo de adaptação e o esforço de superação que se faz a cada dia. Não é apenas uma mudança temporária para outro país com todas as novidades que ela acarreta, mas um movimento que nos modifica por inteiro. Numa situação tão diferente de nossa vida cotidiana, não só vivemos a escrita da tese, nosso propósito maior, mas aprendemos a rever muitos de nossos conceitos, repensamos nossa própria vida e passamos a valorizar o que deixamos para trás – como tão claramente expõe a epígrafe de Amyr Klink.
Sziasztok!
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