Essa vida nova, ainda que tão provisória, me trouxe tantas mudanças, e tantas coisas boas, que às vezes fico triste por antecipação por pensar que, em junho, tudo isso acabará. A convivência com as meninas do dormitório é super tranquila e divertida, e posso dizer que fazia tempo que não ria tanto - na verdade, não lembrava da última vez em que eu dava uma risada de verdade, daquelas em que o corpo todo sofre catarse! Se estou um pouco pra baixo, cansada, irritada, encontro nelas vários motivos para me animar! Acho que, na verdade, estamos todas nos ajudando, pois não acredito que seja só eu quem sinta isso tudo.
Na semana que passou, não fiquei um segundo sequer sozinha. Em outros tempos, acharia isso horrível, pois a escrita de uma tese requer concentração, silêncio e certo grau de solidão. Só que, dado o meu estado de espírito nos últimos tempos, gostei muito de estar sempre com algumas (ótimas) companhias. Na última sexta-feira, dia 18, fui com a Dani e a Raquel, minhas amigas brasileiras, ao Coffee Heaven, um lugar super popular aqui na Europa, para colocarmos a conversa em dia. É incrível como há certas coisas que somente conseguimos traduzir com (certa) precisão na língua-mãe! Ainda assim, em se tratando de sentimentos e emoções, parece que há sempre algo a ser dito que não cabe nos limites das palavras. O que sentimos fica entre uma palavra de emoção e outra, mas parece que muitas vezes não há um correspondente exato na língua. O encontro me fez muito bem, pois choramos as pitangas para então podermos nos sentir mais leves e comemorar pela não-coincidência de termos nos encontrado.
Já no sábado, fui com meu novo amigo húngaro, László, à Galeria Nacional, que fica junto ao Castelo de Buda. Eu sabia que iria voltar lá novamente, mas dessa vez foi melhor do que eu imaginava. Os húngaros se orgulham de sua história, então grande parte deles sabe bastante sobre os fatos que fizeram desse país uma nação desenvolvida, embora tenha perdido grande parte de seu território para o que hoje é a Romênia, a Eslováquia, a Sérvia, por exemplo. Enquanto percorria os corredores da Galeria, László, que também é estudante de História, me contava sobre os infortúnios do país, como as guerras e as invasões sofridas ao longo do tempo por meio das pinturas expostas, incluindo, no relato, as datas (!) de cada acontecimento. Fiz tantas perguntas que o coitado do menino deve ter ficado até tonto!
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| A fachada da Galeria Nacional |
Além disso, no local havia a exposição dos quadros de um dos maiores artistas húngaros, Mihály Munkácsy, que ganhou reputação internacional por pintar quadros de estilo realista, como a trilogia da paixão de Cristo (Krisztus Pilátus előtt - Golgota - Ecce Homo). Lindíssimos! Havia chamado as meninas do dormitório para o passeio, mas a festa em que elas foram na noite anterior estava tão boa que não conseguiram ressuscitar! Nos encontramos depois no nosso restaurante favorito: o Bocadillo!
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| E-D: Eu, László, Reetta e Ana |
Aliás, o que eu e as meninas mais temos feito juntas é comer! Temos experimentado muitos sabores diferentes! Na quarta-feira, tirei a manhã longe da universidade para sair com elas e fazer um programa diferente. Foi o primeiro passeio em que estávamos as quatro juntas! Caminhamos bastante e acabamos indo ao Mercado Central, o local favorito da Ana aqui em Budapeste, para apreciar uma das especialidades húngaras, o lángos, uma massa de pão achatada frita que geralmente leva alho, nata e muito queijo, basicamente. Só que, nessa tenda dentro do mercado, podemos escolher o que colocar em cima:
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| Tradicional tenda de Lángos |
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É comum as pessoas se instalarem em mesas compridas
no corredor do mercado para saborear as comidas das tendas. |
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| Reetta e Olus prontas para atacar! |
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| É preciso talento para comer tudo isso sem fazer sujeira... claro que não é o meu caso! |
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Nós quatro grudadas para nos aquecer... muito frio dentro do Mercado!
Detalhe: a minha mochila não tem poderes sobrenaturais! |
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| Registro feito pela Ana |
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| Pelas ruas - registro feito pela Ana |
As fotos a seguir foram gentilmente cedidas por Stefano C. Ascione, que mostra a rua onde se localiza o mercado, que leva à Szabadság híd (Ponte da Liberdade), e duas cenas cotidianas dentro do local (belo jogo de luz!):
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| Ponte da Liberdade - por Stefano Ascione |
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| Mercado Central - por Stefano Ascione |
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| Transeuntes no Mercado - por Stefano Ascione |
Nesse mesmo dia, encontrei-me com mais duas novas amigas, a Veronika, húngara legítima, e a Karla, americana, ambas professoras da ELTE. Veronika fez as vezes de anfitriã e nos levou a um café chamado Big Ben Teahaz, em referência à torre inglesa mesmo. Trata-se de uma casa de chás muito bonitinha, que serve misturas muitas vezes exóticas para um simples chá da tarde. Pudemos sentar em uma mesinha com toalha e louças parecidas com a casa de uma vovó e conversamos por horas sobre assuntos comuns. Interessante é que, já na saída, me deparo com uma cuia com formato parecido daquele em que gaúchos como eu tomamos nosso chimarrão. Foi então a minha vez de falar um pouco da minha cultura! (Bateu até uma saudade dessa bebida e das tardes na Redenção!)
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| Veronika e Karla |
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| Eu e Veronika |
Falando em restaurantes, descobrimos, pela Olus, que há um pequeno lugar dentro do nosso prédio de dormitórios que serve boa comida por preços justos. Cada última sexta-feira do mês é dedicada à culinária de um país diferente, e a escolhida da vez foi a Itália (que azar, né?). Posso dizer que, após esse jantar, decidimos sofrer um pouco e parar de comer essas coisas maravilhosas que servem por aqui por um tempinho - se ainda quisermos caber em nossas roupas! O grande "problema" é que para cada encontro com as pessoas queridas que conheci aqui, há sempre um prato delicioso, um café ou cappuccino que exala um aroma irresistível, que acompanham muito bem as muitas conversas nas quais venho participando! Que coisa, não?
Hummmm...tudo isso parece delicioso hein!Esses langos da agua na boca! E o mercado e encantador! Lindas fotos! Aproveite muito!
ResponderExcluirNani! Sabia que você iria focar bem nos lángos! Hahaha! Lembrei de ti quando comecei a comê-los - são do teu tipo! :D Beijo!
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