sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tempo de novas perspectivas

...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
(Clarice Lispector)




Ando pensando muito nesses últimos dias. E não é só "queimar a mufa", ou "furar as páginas com os olhos" (como diz a Heloísa Feltes), por causa da tese, que venho fazendo por aqui. Apesar de essa viagem ser dedicada ao estágio de Doutorado-Sandwich, entendi que essa é uma parte ínfima de uma experiência enorme de autoconhecimento e de análise, que só foi possível quando consegui tomar distância da própria bolha na qual eu mesma havia me inserido na minha rotina. Gosto de usar o pensamento de Eric Fromm, filósofo, para o qual é preciso que nos afastemos para realmente ver. É inevitável, por isso, repensar os caminhos que decidi tomar e aceitar que, de certo modo, esses foram os melhores trajetos (ou atalhos) que eu poderia ter escolhido. Não posso me arrepender por eles e nem voltar atrás: a vida é feita de escolhas e a responsabilidade por elas é só minha. 

Às vezes, o corpo fica abandonado em uma cadeira, em frente ao computador, ou jogado em um canto do trolley de volta para a casa, ou, ainda, caminhando pelas ruas geladas de Pest... e a imaginação viaja para bem longe. Penso nas atitudes e nas decisões que tomei em um passado não tão distante, em todas as relações nas quais estive envolvida, e, dada a distância, parece que vejo tudo de maneira bem diferente. Não sei se assumo o melhor ponto de vista agora, mas a mudança de perspectiva acabou servindo para ver com certa clareza o que ainda estava nebuloso. 

No início do mês recebi um comentário da minha amiga Samira que despertou minha atenção para tudo isso: segundo ela, esse doutorado não é só em Linguística, mas há outros propósitos "ocultos". Não havia pensado dessa forma, mas posso dizer que ela está certíssima: há mais coisas a serem refletidas e compreendidas do que o que está implícito na construção de uma tese. Esse pouco tempo em que estou aqui tem sido valiosíssimo  para fazer as pazes comigo mesma, parar de pensar no "E se...", para ver a vida a partir de uma outra perspectiva e, até mesmo, para modificar a minha relação com as pessoas com quem convivo (para melhor, espero). O que importa é que uma grande mudança está em construção e, certamente, não serei mais a mesma pessoa. Só que, de acordo com minha amiga Camila X. Nunes, "Se eu mudar mais eu viro outra pessoa, então só posso mudar coisinhas poucas."... A essência continua a mesma, mas, de resto, será impossível ser a mesma quando  eu retornar!




* E por falar em perspectivas, publico aqui um registro quase poético feito pelo meu mais novo amigo, Stefano, namorado da Ana, da vista do Castelo de Buda para o lado Pest (clique na foto para ampliá-la):


By Stefano Carlo Ascione

** Nos próximos posts, farei uma retrospectiva dos últimos dias, já que estive "um pouco" em falta por aqui. (Recebi alguns e-mails me cobrando, gente!)

Um comentário:

  1. Às vezes penso que a tese é um álibi para realizarmos certas coisas que não faríamos sob outras circustâncias. Entonces, aproveite! Hehehe!

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